Omnia Unus Est – entre o Caos e a Verdade

Toda Opus deve ser concluída, em tempo ou a tardar. Não podemos interferir no Destino dos homens enquanto coagulados no plano Terrestre, mas podemos induzir algumas das Operações em seus caminhos. Podemos semear uma fração da Verdade em seus corações. Uma centelha, capaz de fazê-los emergir do Caos como partes de Prima Materia.
Enviaremos, daqui do Alto, nossas mensagens. Eles poderão “ouvi-las” sem lhes dar qualquer importância, ou, transmutá-las em trigo a germinar no solo árido, revelando realidades por nós pré-concebidas para moverem-se, talvez, de acordo com a nossa Vontade. Construiremos Sonhos para que neles naveguem e façam dos mares, muros, e o próprio Tempo, talvez até a própria Morte, detalhes irrelevantes para a re-união do que antes foi uma só Alma. Lá, os sentimentos frente a rostos desconhecidos serão tão reais quanto aqueles que os abalam quando despertos, e eles saberão que esses laços os ligam pelo coração, ao perceber que – em plena luz do dia – este ainda entoa a canção que os acalentou em Sonho. Deixaremos que eles definam que significados extrair desses “sopros” que lhes tocarão a consciência, e mesmo que simplesmente ignorem esses sinais, sua indiferença apenas nos levará a novos movimentos.


Aguardaremos pacientemente pelo seu desabrochar como Prima Materia, torcendo e dando voltas no Tempo, até que nosso intento se manifeste no plano Terrestre, através de cada um deles. Mesmo que tenham que ir e voltar pelos dias, meses, ou anos em busca de respostas. Mesmo que precisem de mil vidas para reconhecer e cumprir o seu propósito adormecido, percorrendo – vida após vida – o mesmo caminho, mil vidas lhes daremos.Reditus Aeternus. Seus antecessores criaram e se orientaram através de oráculos, fizeram descobertas a partir das Obras que lhes designamos no passado e registraram suas narrativas, frutos de nossa Inspiração e dos quais fomos testemunhas através dos tempos. Agora os mesmos frutos iluminarão o caminho de seus sucessores para novas colheitas, que no futuro, por sua vez, vão nutrir os sonhos daqueles que ainda aguardam seu Retorno ao plano Terrestre. Assim as vias rumo à Coniunctio entre todas as partes da Prima Materia vão sendo pavimentadas, para então, o seu desfecho na Opus Alchymicum.


Qualquer coisa se tornará pequena frente ao chamado por esse propósito desconhecido, ecoando no interior de cada ser com uma Opus a frutificar. Muitas serão as aflições do espírito, que os acometerão. Passarão noites em claro, e mesmo o adormecer não lhes será tranquilo. O comer e beber se tornará insípido, um mero encargo para sua sobrevivência. Os dias e seus deveres lhes parecerão uma encenação, e a própria vida já não lhes fará sentido algum, por mais conquistas que tenham alcançado. Equivocados, a crer nos efeitos desse chamado como enfermidades, eles buscarão a cura na fração da Verdade que lhes semeamos no peito – e mesmo na escuridão que se tornou o viver, serão capazes de subir os degraus de uma Torre para alcançá-la. Esperança, talvez. Cada nível conquistado, nessa escada íngreme e tortuosa, lhes parecerá uma pequena vitória, sem, contudo, se darem conta de que estão deixando para trás, pouco a pouco, parte de si a cada avanço. Que estão sendo dissolvidos. Quanto mais se aproximarem de nós, da Verdade no topo da Torre, mais incompreendidos pelos seus pares serão, e se tornarão solitários. Eremitas. A dúvida e o cansaço pela falta de respostas por vezes os abaterão, e ganharão cicatrizes profundas a cada retrocesso. Começarão a se questionar quanto ao que a intuição lhes diz sobre a Verdade, se não seriam apenas delírios da mente supostamente adoentada. Pouco mais adiante, ao fim dos degraus, quando por fim dissolvidos, quase inanimados aos pés da porta entreaberta no topo da Torre, permitiremos que vejam a Verdade que lhes é reservada, porém não deixaremos que a alcance. Ainda não será o tempo para a Sublimatio. Isso irá lhes inflamar o coração, e nós os lançaremos abaixo, mas revividos, de volta à matéria para ali coagular a Verdade que mostramos. Solve et Coagula. Alguns podem se perder suspensos entre o que está em cima e o que está embaixo, fascinados com a Verdade que podem vir a alcançar em sua Opus. A estes, nada podemos oferecer senão um longo período de reflexão, para que resgatem a visão clara de sua missão quanto ao coagular de sua Verdade no plano Terrestre. Nem que precisem de outra vida para alcançar seu propósito, nós a concederemos e tornaremos a semear um fragmento de sua mesma Verdade no coração então renovado, para voltarmos à espera por mais esse florescer.


De volta à matéria, agora como Prima Materia, logo saberá que não será poupada. Depois de preencher-lhe o ser com o contentamento da visão da Verdade, e com o que está embaixo, vamos matá-la no mais profundo sofrimento que possa suportar. Vamos dar-lhe vislumbres de felicidade pelos quais voltará a sonhar, para então arrancar-lhe esse júbilo imaginado junto a quaisquer vestígios de esperança que ainda possam reconfortar sua Alma. A queremos vazia e totalmente entregue, para que possa receber o que está em cima. Os sofrimentos que a marcaram na busca pela Estrela – a Verdade além da Torre – serão insignificantes perto do que sentirá agora. Iremos distanciá-la da Verdade prometida, convencendo-a que jamais a alcançará, e isso irá queimá-la junto a qualquer apreço que tenha pela própria existência. Não terá desejo de estar em um mundo onde seu maior sonho não possa ser realizado. As lágrimas verterão até mesmo quando adormecida, para que desperte na angústia que pressiona o peito, a ponto de sufocar sua voz. Retirar-lhe a esperança será para ela como a ter Morte em vida, cujo coração transpassado por essa dor ainda baterá – desolado – para que os dias sejam vencidos um a um, lentamente. Mais tarde, a dor contundente dessa Morte esmorecerá, dando lugar à decomposição comum a tudo que a vida já abandonou. A consciência permanecerá encarcerada no desengano, enquanto, a Prima Materia, vulnerável em sua letargia, se tornará copa vazia para reunir-se ao seu oposto. Enquanto a dor não for grande o suficiente para fazê-la abdicar de qualquer outra esperança, inclusa a Verdade que a ela foi revelada, ou de qualquer desejo que a coagule no plano Terrestre e mesmo assim permanecer vivendo seus dias humanos um a um, convicta de que tem uma missão a cumprir, ela não poderá ascender até nós, e não poderá receber o que temos a lhe oferecer.Ad Astra per Aspera. Somente assim terá sua iluminação. Somente assim poderá afastar toda treva de seu coração e transmutar a si própria em Lapis Philosophorum.

“Olhe para dentro e desperte”, dizemos aos homens. A Opus Alchymicum em seu Destino terá início em sua própria escuridão.

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IMAGEM: Alana Lopps, “o Anjo” (2023). @alana_lopps